Pesquisa adiciona à ração de tilápias bactérias benéficas encontradas no próprio peixe
Uma pesquisa inovadora do Instituto de Pesca (IP-APTA) isolou da tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) bactérias que podem trazer benefícios para a piscicultura brasileira. Estas bactérias atuam como probióticos, colonizando o sistema intestinal dos peixes e propiciando melhoras em vários aspectos da saúde dos animais. “A nossa ideia foi selecionar um probiótico específico, para utilização para tilápia-do-nilo, que é o peixe mais criado hoje no Brasil”, conta o pesquisador do IP, Leonardo Tachibana, um dos responsáveis pelo projeto, que contou também com os pesquisadores Danielle Dias e Carlos Ishikawa. Apesar de já serem utilizados probióticos na tilapicultura, nenhum era específico para a atividade, o que levava a resultados menos efetivos.
“Começamos a fazer coletas de tilápias em vários Estados brasileiros. Fizemos uma coleta grande de peixes de várias localidades para aumentar nossa gama de oferta de bactérias possivelmente probióticas”, diz Tachibana. Uma vez isoladas as bactérias, estas foram submetidas a testes de laboratório que avaliaram, entre outros aspectos, sua ação antimicrobiana frente a bactérias patogênicas. “Encontramos cinco bactérias possivelmente probióticas, que passaram em todos os testes e foram testadas in vivo nas tilápias-do-nilo. Para isso, a gente cultiva a bactéria, liofiliza e adiciona na ração”, ensina o pesquisador do IP.
Melhor saúde e maior desenvolvimento da tilápia
A utilização dos probióticos promete ser uma grande aliada do piscicultor na busca de melhores resultados na produção. “Existem vários benefícios na utilização do probiótico, como o aumento da capacidade imunológica do animal e o equilíbrio na microbiota intestinal, que o ajuda a ficar mais saudável. Existem registros de que melhoram a sobrevivência do animal em caso de alguma doença”, enumera o pesquisador. Com isso, o peixe cresce mais e melhor e o produtor pode ter um retorno mais rápido.
Uma outra justificativa forte para o uso dos probióticos é a redução na utilização de produtos químicos sintéticos na criação dos animais, indo ao encontro a uma preocupação crescente do consumidor. “Por melhorar o sistema imunológico, você acaba utilizando menos os chamados produtos quimioterápicos na manutenção da saúde dos animais”, pontua o pesquisador do IP.
“O uso de probióticos é uma tendência mundial.”
Ivan Lee, sócio-diretor da empresa BioCamp, que firmou parceria com o IP para desenvolver em escala comercial o probiótico a ser incorporado na alimentação das tilápias.
Lee afirma que o consumo de peixe vem crescendo muito no Brasil nos últimos anos, puxado pela produção de tilápia, que já corresponde a mais da metade do pescado cultivado no país. A inovação e a união entre instituições públicas e iniciativa privada, defende, têm papel fundamental neste cenário, possibilitando uma produção maior e mais sustentável. “Buscamos parcerias sérias e sustentáveis, de acordo com nossa missão, e ficamos muito contentes com o trabalho feito com o Instituto de Pesca. Não basta ser rentável, tem que fazer algo pela sociedade”, enfatiza o sócio-diretor da Biocamp. Para ele, a indústria faz com que as pesquisas científicas sejam levadas a maiores escalas e possam atender às necessidades reais dos produtores. “A parceria com a iniciativa privada possibilita que as pesquisas tenham reflexo na vida das pessoas”, finaliza Lee.