Tecnologia do IZ permite transformar passivo ambiental em ativo financeiro, trazendo sustentabilidade real para as granjas
Imagine só transformar efluentes oriundos da produção de suínos em adubo para agricultura, água e energia para a propriedade ou para venda a concessionárias? Esses impactos positivos da suinocultura não ficam apenas na imaginação, mas ocorrem no mundo real, em propriedades rurais do Estado de São Paulo. Trabalho desenvolvido pelo Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, permitiu adaptar a tecnologia da empresa JL Tecnologia Ambiental (JLTec) para tratamento de efluentes de origem pecuária e humana simultaneamente. O resultado é mais renda no campo e menos impacto no meio ambiente.
De acordo com a pesquisadora do IZ, Simone Raymundo de Oliveira, o programa chamado de Suíno Pata Verde visa a sustentabilidade real da atividade da pecuária, tendo foco em transformar passivo ambiental em ativo financeiro dentro da propriedade. A tecnologia, desenvolvida desde 2017 na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Tanquinho, já é utilizada em propriedades rurais de Cordeirópolis, Capivari e Araras.
“Dizemos que o programa promove uma sustentabilidade real porque usa os efluentes dos suínos, que trazem impacto para o ambiente, e os transforma em novos recursos dentro da propriedade rural. Com o sistema temos a produção de dois tipos de adubos, altamente nutritivos para as plantas, e de água. Dizemos que produzimos água porque pelo menos 75% da água que é produzida no tratamento e clarificação do chorume podem ser reutilizadas na propriedade na irrigação de lavouras de milho, soja, café, forragens e até na lavagem de caminhão”, conta a pesquisadora que é líder do projeto.
Segundo Simone, a partir tecnologia é possível retirar até 95% dos nutrientes que transformam os efluentes dos suínos em poluentes e mitigar as emissões de metano no meio ambiente, transformando esse gás de efeito estufa em energia térmica e elétrica. “Com o sistema, conseguimos transformar o metano em biogás, deixamos de soltar no ambiente nitrogênio amoniacal e todos os minerais que viriam a se transformar em gases do efeito estufa. Esses minerais ficam em um circuito fechado e depois são usados para adubo ou para conversão de energia”, explica.
Inovação mundial
Os atuais sistemas produtivos, de acordo com Simone, são caracterizados por um número maior de animais, o que acaba elevando o potencial de poluição em função da quantidade e das características dos efluentes de dejetos gerados. Na produção de suínos, por exemplo, um porco de 63 quilos produz 13% do seu peso em efluentes. Esse valor multiplicado pela quantidade de carne suína produzida no Brasil – cerca de 4,7 milhões em 2021, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) – torna necessário o desenvolvimento de tecnologias que reduzam os impactos ambientais da atividade.
“O projeto Suíno Pata Verde busca justamente reduzir esse impacto, por isso, dizemos que é uma inovação mundial. Além disso, a tecnologia do sistema é nacional e os equipamentos usados são todos produzidos no Brasil, principalmente, no Estado de São Paulo, o que reduz os custos de manutenção. Como vantagem perante a tecnologias similares no mercado, temos o baixo custo de implantação, totalmente reembolsável a partir dos ativos gerados em até 24 meses”, explica Simone.
O Programa Suíno Pata Verde tem como base a estação de tratamento de efluentes suínos que foi financiada pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) e patrocinada pelos Comitês PCJ, em parceria com a empresa JL Tecnologia Ambiental (JLTec). As pesquisas são desenvolvidas na Estação de Tratamento e Valorização dos Coprodutos dos Efluentes de Suínos e na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento do IZ em Tanquinho, distrito de Piracicaba (SP).
“Montar a Estação de Tratamento foi muito interessante para nós, pois tivemos um retorno financeiro, com a extração de produtos que passaram a ser usados para o aquecimento dos leitões, substituindo os gases (GLP) que usávamos até então, e passamos a usar o adubo do tratamento em lavouras de café e grãos. Além disso, estamos estudando mais sobre a purificação da água para podermos usar na irrigação de flores. Com isso, conseguimos alcançar a sustentabilidade da propriedade, transformando a atividade em algo benéfico ao meio ambiente, e agregando lucro a outras atividades.”
Mateus Mendes Zanetti Picolini, responsável por uma granja de ciclo completo de 180 matrizes em Cordeirópolis (SP).