Trajetória recente dos agronegócios no Brasil e em São Paulo entre 2018-2021

01. Erradicação da pobreza
02. Fome zero e agricultura sustentável
03. Saúde e bem-estar
04. Educação de qualidade
05. Igualdade de gênero
06. Água limpa e saneamento
07. Energia limpa e acessível
08. Trabalho de decente e crescimento econômico
09. Inovação infraestrutura
10. Redução das desigualdades
11. Cidades e comunidades sustentáveis
12. Consumo e produção responsáveis
13. Ação contra a mudança global do clima
14. Vida na água
15. Vida terrestre
16. Paz, justiça e instituições eficazes
17. Parcerias e meios de implementação

Dentre o rol de atividades que compõe a matriz produtiva brasileira, os agronegócios exibem crescente participação na geração de riquezas, potencializando o crescimento econômico com incremento do bem-estar social de centenas de municípios das mais diversas regiões do país.

No quadriênio 2018 a 2021, há dois períodos marcadamente distintos. Os primeiros dois anos dentro daquilo que se considera “normalidade”, enquanto os dois últimos marcados pela evolução da pandemia de Covid-19. Essa dualidade temporal trouxe repercussões sobre os setores econômicos de diversas ordens a depender de sua natureza produtiva. Entre 2020 e 2021, período do ciclo pandêmico, alimentos, bebidas, fibras e energia, componentes do agronegócio brasileiro, apesar das restrições sanitárias impostas em âmbitos doméstico e internacional, foram aqueles que menores perdas incorreram.

No Brasil, o desdobramento mais negativo, do segundo período assinalado, foi o recrudescimento da inflação com nítida alavancagem pelo componente alimentos. Sem capacidades econômicas para acessar uma alimentação equilibrada, milhões de famílias passaram a conviver diariamente com a insegurança alimentar e a fome. Políticas públicas foram acionadas para contornar essa dinâmica perversa que, porém, mostraram-se aquém das necessidades do conjunto de nossa população.

Entre os anos safra 2017/18 e 2021/22, a área cultivada com grãos e fibras no país elevou-se de 63,26 para 72,11 milhões de hectares, ou seja, incremento de 14% no período1. Por sua vez a produção saltou de 246,83 para 284,39 milhões de toneladas, representando expansão de 15%, percentual que poderia ser maior se não fossem a série de distúrbios climáticos ocorridos, especialmente, em 2021, com a estiagem prolongada seguida por geadas. A evolução da produtividade refletiu-se nessa condição de dificuldades com o transcurso do clima, mantendo-se praticamente estável no período.

Considerando o valor da produção agropecuária (lavouras + criações) a expansão foi bastante significativa, sendo que em 2018 contabilizou-se R$ 849,10 bilhões para os atuais R$ 1.164,40 em 202, ou seja, salto de 37% no período2. Em São Paulo, esse mesmo indicador calculado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) (50 lavouras e criações contabilizadas) teve desempenho ainda mais satisfatório frente ao observado no contexto nacional, expandindo-se em 62% (salto de R$75,51 bilhões para R$122,41 bilhões)3.

Quanto aos embarques de produtos agropecuários brasileiros (in natura, semielaborados e elaborados), em 2018, o agronegócio do país exportou US$ 101,69 bilhões de dólares com saldo líquido de US$ 87,65 bilhões, enquanto São Paulo embarcou US$ 16,41 bilhões, gerando saldo de US$ 11,50 bilhões. Essas mesmas informações trazidas para 2021 revelam expressivos saltos nas exportações e na formação de saldo comercial na balança do agronegócio com US$ 120,59 bilhões e US$ 105,06 de saldo; US$ 18,97bilhões e US$ 14,39 de saldo, para Brasil e São Paulo, respectivamente. A presença brasileira e paulista no mercado global de alimentos é cada vez mais representativa, com destaque para a demanda chinesa, europeia, estadunidense e dos parceiros comerciais do MERCOSUL.

Enquanto no resto do país predominam as lavouras de grãos e fibras, em São Paulo, os segmentos sucroenergético, as carnes (bovina, suína e de aves) e os produtos florestais, perfazem a maior parte do valor da produção estadual. São Paulo tem importância estratégica para todo o agro nacional na medida em que, nas exportações, o Porto de Santos, principal terminal exportador do país (em café, por exemplo, 80% dos embarques são efetuados por Santos embora São Paulo produza apenas 10% da safra brasileira), coloca o Estado como imprescindível hub logístico do agronegócio brasileiro para tudo aquilo que aqui se produz como para escoamento para o restante da produção nacional.

Por possuir o maior mercado consumidor de alimentos, fibras e energia do país, o Estado de São Paulo concentra parte expressiva da agroindústria de transformação dos produtos in natura: usinas e destilarias de açúcar e etanol; esmagadoras de grãos (óleo e farelo) e de suco cítrico; frigoríficos e abatedouros; processadoras de celulose; torrefadoras de café; além de redes de entrepostos atacadistas e varejistas que, conjuntamente, garantem o suprimento constante para os centros urbanos.

Os avanços tecnológicos do último quadriênio são monumentais. A chegada definitiva da chamada agricultura 4.0 mostra suas capacidades disruptivas em termos de automação e salto para a digitalização de toda a atividade produtiva rural (englobando todas as etapas desde antes da porteira, acesso ao financiamento e seguro, até a entrega da produção na comercialização). O crescente desenvolvimento e emprego dos bioinsumos confere maior sustentabilidade ambiental à produção. A certificação ESG (environmental, social and governance) tornou-se uma coqueluche entre os investidores e gestores do agro, influenciando um rol de tomada de posição e de decisões muito assertiva na busca por sistemas de produção mais alinhados com os anseios da sociedade contemporânea.

O futuro reserva desafios para o agronegócio brasileiro e, consequentemente, o paulista. As mudanças climáticas certamente se encontram no topo das preocupações mundiais. Estiagens, geadas, recordes de temperaturas máximas, precipitações anormais em volume e duração, nuvens de poeira típicas de regiões desérticas, denotam a necessidade inescapável de engajamento das autoridades públicas e da pesquisa agropecuária na implementação de ações mitigadoras desses fenômenos que possuem potencial de estancar a expansão do agronegócio brasileiro.

Outros desafios de caráter mais local se somam como: ganhos de eficiência logísticos e melhoria da conectividade no campo. Muito ainda tem que se investir para que as malhas ferroviárias e hidroviária nacionais atendam a demanda por transporte dos insumos e da produção. No quesito conectividade há a promessa da tecnologia 5G ser leiloada mediante ao atendimento das áreas menos assistidas, especialmente, as rurais. Enfim, a agenda de avanços com ganhos de competitividade para o agronegócio brasileiro é extensa e demandará muito esforço dos agentes envolvidos nesse setor que, atualmente, mais se destaca na economia do país.

1 Dados disponíveis em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras (acesso em 14/01/2022)
2 Dados disponíveis em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/valor-da-producao-agropecuaria-de-2021-esta-estimado-em-r-1-113-trilhao (acesso em 14/01/2022)
3 Dados disponíveis em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/bancodedados/valorproducao (acesso em 14/01/2022)

Celso Vegro, diretor do IEA

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