APTA Regional desenvolve estudos para cruzamento de gado nelore e angus

01. Erradicação da pobreza
02. Fome zero e agricultura sustentável
03. Saúde e bem-estar
04. Educação de qualidade
05. Igualdade de gênero
06. Água limpa e saneamento
07. Energia limpa e acessível
08. Trabalho de decente e crescimento econômico
09. Inovação infraestrutura
10. Redução das desigualdades
11. Cidades e comunidades sustentáveis
12. Consumo e produção responsáveis
13. Ação contra a mudança global do clima
14. Vida na água
15. Vida terrestre
16. Paz, justiça e instituições eficazes
17. Parcerias e meios de implementação
Animais são mais adaptados às condições paulistas e têm ótima qualidade de carne

Pesquisa realizada pela Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Tietê da APTA Regional, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, vem fazendo, desde 2017, cruzamentos de duas raças de gado bovino com perfis produtivos bem distintos. A iniciativa utiliza matrizes nelore e sêmen de reprodutores angus e visa obter progênies que unam características desejáveis de ambas.

Segundo a pesquisadora da UPD, Tietê Keila Maria Roncato Duarte, uma das responsáveis pelo projeto, fruto de parceria com o Sindicato Rural da cidade, animais angus são reconhecidos pela qualidade da carne, muito valorizada no mercado. No entanto, por ser uma raça típica de regiões frias, passam por problemas de adaptação ao clima mais quente encontrado na maior parte do Brasil, inclusive no Estado de São Paulo. Dessa forma, o cruzamento com uma raça já bem adaptada às nossas condições climáticas torna-se uma opção interessante. “Os mestiços nascem com a rusticidade do nelore e a carne tão macia quanto a do angus puro”, afirma Keila.

Além da questão de conforto térmico, a pesquisadora menciona que os animais da raça angus sofrem mais com a incidência dos chamados ectoparasitas, como carrapatos e bernes, que são abundantes em regiões tropicais. “Esses animais têm a cauda mais curta e, por isso, demonstram maior dificuldade para espantar as moscas e demais parasitas. Os animais cruzados, por outro lado, possuem cauda mais longa, típica do nelore, e fazem melhor essa autolimpeza”, explica a pesquisadora. Esses elementos trazem ganhos importantes em termos de manejo e de bem-estar animal, além de melhor qualidade ao produto final, pois os ectoparasitas podem prejudicar a saúde do animal, o ganho de peso e a integridade do couro, diminuindo seu valor.

Além dos cruzamentos em si, as pesquisas lideradas por Keila buscam analisar, de um ponto de vista científico, os parâmetros produtivos. “Fizemos uma avaliação se seria vantajosa a inseminação artificial, em comparação à manutenção de um touro angus na propriedade”, comenta a especialista. A inseminação artificial se mostrou a melhor opção, tanto em termos de custo quanto de comportamento reprodutivo dos animais. “Separamos ainda alguns animais para analisar rusticidade, bem-estar e parâmetros de desempenho, tendo sido geradas diversas publicações científicas”, acrescenta.

Outro ponto importante implementado é a criação feita a pasto e com o sistema creep-feeding, onde os bezerros têm acesso a um cocho privativo e recebem um reforço de ração balanceada, de maneira a se habituarem ao alimento quando desmamarem. O objetivo é possibilitar maior ganho de peso.

Maior ganho ao produtor, sem aumento de custos no manejo

Segundo conta a pesquisadora da APTA Regional, a criação dos animais mestiços tem grandes chances de ser um ótimo investimento para o pecuarista e não traz nenhum custo adicional de manejo, em comparação ao nelore puro. Ela narra que foram feitos já três leilões com os animais entre 2019 e 2021, tendo sido obtidos preços bastante animadores. “No leilão de 2021, os animais mestiços foram vendidos por preços 30% maiores que os nelore de mesmo peso”, enfatiza Keila.

Mestiços: angus e nelore (crédito Keila Duarte)

A pesquisadora acredita que o projeto pode contribuir para a valorização da pecuária regional. De acordo com ela, em 2017, apenas um pecuarista da região havia investido no gado cruzado. Agora, já são oito, o que demonstra o reconhecimento da qualidade dos animais mestiços e as vantagens para o criador. “Outros produtores da região, inclusive que trabalham com outras raças, vêm até a UPD conhecer os processos de cruzamento e inseminação industrial, com o intuito de implementar em suas fazendas”, ressalta.

Estabelecido em Tietê desde o final do século XIX e com forte presença no agro da região, o Grupo Zambianco resolveu apostar nesse potencial. Segundo o gerente de pecuária, Márcio Alexandre Zambianco, o investimento tem valido muito a pena. “Conhecemos há pouco tempo o trabalho de pesquisa e desenvolvimento com cruzamento de bovinos das raças nelore e Aberdeen angus e imediatamente demonstramos interesse no resultado. Adquirimos um lote de machos através de leilão direto da instituição e ficamos extremamente satisfeitos com os animais”, garante.

Para Zambianco, o cruzamento destas duas raças é uma combinação excelente, praticamente perfeita de características fisiológicas positivas. “Os animais trazem os traços zebuínos do nelore, como maior rusticidade e tamanho corporal (frame), que possibilitam maior índice de rendimento de carcaça, e os traços taurinos do Aberdeen angus, como docilidade, super precocidade, superior conversão alimentar (excelente resposta ao trato confinado) e o desejado marmoreio, requisito essencial para carnes premium com demanda aquecida no mercado”, assegura. O gerente de pecuária destaca, ainda, a adaptação dos animais a qualquer tipo de manejo, tanto a pasto quanto em confinamento.

Com todas as vantagens observadas, os frutos do investimento prometem ser animadores. “O destino desses animais é o corte comercial, sendo que provavelmente irão para exportação para os países asiáticos, e é esperado algo em torno de R$ 900,00 por animal de retorno financeiro”, afirma.

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