A tecnologia, chamada Matriz do Terceiro Eixo, traz incremento de R$ 6 bilhões na renda do produtor, por ano
O esforço na ciência agronômica é direcionado à geração e transferência de tecnologias que auxiliem as culturas agrícolas a aproveitarem da melhor maneira a água disponível no solo e a se adaptarem às condições adversas. Nesse cenário, destaca-se no setor sucroenergético a Matriz do Terceiro Eixo, modelo de mitigação de déficit hídrico desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que amplia em cerca de 30% a produtividade agroindustrial. Este salto representa um aumento de 23 toneladas, por hectare, rendimento que deverá levar a um acréscimo de 46 milhões de toneladas de cana somente na canavicultura paulista em breve. O incremento na renda do produtor é de R$ 6 bilhões, por ano.
O principal objetivo do IAC ao desenvolver esse conceito é disponibilizar ao setor uma eficiente ferramenta para mitigar o déficit hídrico, considerando que quase 100% da canavicultura paulista é de sequeiro, isto é, sem irrigação.
Atualmente a Matriz do Terceiro Eixo está em plena evolução no Centro Sul do Brasil, sendo adotada pelos grupos Raízen, BPBunge, Pedra, Jalles Machado, Denusa e um grande número de fornecedores de cana. “Estimamos que esse modelo já esteja em uso em aproximadamente dois milhões de hectares, o que deverá perfazer um acréscimo de 46 milhões de toneladas de cana, em futuro próximo”, explica Marcos Guimarães de Andrade Landell, líder do Programa Cana IAC e diretor-geral do IAC.
Os ganhos mais expressivos e imediatos ocorrem nos canaviais de segundo e terceiro cortes. Isso porque esse modelo impacta diretamente no aumento de população de colmos desses primeiros ciclos.
O Terceiro Eixo reduz a queda de produtividade agrícola que ocorre do primeiro para o segundo corte, que normalmente é acima de 15% e pode chegar a 25%, em caso de condições extremas. Com a Matriz Tridimensional esse declínio é reduzido para cerca de 6% e há casos em que não há nenhuma perda. Isso ocorre em função da manutenção e até da ampliação da população de colmos ao longo dos primeiros ciclos, que traz como principal consequência a perenização desses canaviais. O resultado é a lavoura com um aumento de três cortes economicamente viáveis.
Naturalmente, essa redução da queda de produção do primeiro para o segundo corte beneficia o rendimento de todos os demais cortes. “Há casos em que o terceiro corte, com a aplicação do conceito do Terceiro Eixo a partir da cana-planta, atingiu ganhos de 40% em relação ao histórico de toneladas de cana por hectare registrados na usina”, relata o diretor-geral do IAC.
A Matriz do Terceiro Eixo foi desenvolvida pelo IAC em regiões com estresse hídrico acentuado. “Destacamos que grande parte da canavicultura brasileira é conduzida em condições de sequeiro e/ou em regiões de déficits hídricos relevantes, o que nos faz prever uma efetividade maior do manejo do Terceiro Eixo em relação ao modelo mais convencional”, ressalta o pesquisador e gestor.
Por que “Terceiro Eixo”?
O nome Terceiro Eixo se deve ao fato de a estratégia desenvolvida pelo IAC ter trazido um terceiro fator – o ciclo de produção da cana-de-açúcar – para se somar a outros dois fatores já considerados no cultivo: o ambiente de produção e a época de colheita. Para proporcionar esses resultados ao setor sucroenergético, a Matriz do Terceiro Eixo envolveu especificamente o corte da cana com o objetivo de minimizar os efeitos do déficit hídrico.
“A Denusa começou a adotar a tecnologia do Terceiro Eixo em 2010. Foi a primeira safra em que começamos a mudar o manejo de colheita de cana tradicional para o manejo do Terceiro Eixo – foi um divisor de águas pra gente, tivemos ganhos de até 30% de produtividade só na aplicação do Terceiro Eixo, sem alterar o custo com adubação e defensivos. Em 2009, tínhamos 49 toneladas por hectare, em 2018 chegamos a 89 toneladas, por hectare, sem investimento em adubação. Esse salto de 49 pra 89 toneladas foi principalmente pela adoção do manejo do Terceiro Eixo e a utilização de variedades modernas, principalmente as desenvolvidas pelo IAC, que ocupam cerca de 70% das áreas da Denusa. Em 2021, produzimos 98 toneladas por hectare. Começamos gradativamente em 2010 e hoje aplicamos o Terceiro Eixo em 100% da área da Usina de 18 mil hectares, nos municípios de Jandaia, Indiara, Acreúna e Paraúna, em Goiás.”
Pedro Abrahão Barbosa, gerente agrícola da Usina Denusa – Destilaria Nova União SA.
“Dentro de um planejamento estratégico, a BP Bunge Bioenergia utiliza a Matriz do Terceiro Eixo como parte do pacote tecnológico adotado, visando maximização da produtividade agrícola (TCH e ATR) e longevidade dos canaviais, já que nenhuma prática agronômica sozinha pode ser responsável por aumento de produtividade. A Matriz 3D visa à mitigação do déficit hídrico, colhendo os canaviais seguindo uma cronologia de idade (iniciando a safra com as canas mais novas e finalizando com as mais antigas). O motivo disso é a exploração radicular, ou seja, uma cana de primeiro corte possui menor exploração radicular (quantidade e profundidade) comparada a uma cana de terceiro corte. O conceito abrange também outras questões agronômicas fundamentais para que os ganhos em TCH ocorram, são elas: antecipação de colheita dos ambientes desfavoráveis (de E para A); utilização da irrigação e fertirrigação (incluindo Vinhaça Localizada) como ferramenta de manejo para redução do estresse hídrico; e definição de um volume de canaviais hiperprecoces para travamento sempre em início de safra – estas canas não “caminham no 3º Eixo”. Este último deve ser adotado, mas sempre racionalizando o percentual de canas precoces a fim de que não prejudique a aderência da colheita dos canaviais mais nobres e a distribuição da irrigação durante a safra.
Sobre resultados com a utilização da adoção da Matriz Tridimensional, nós da BP Bunge Bioenergia comemoramos a coragem em quebrar paradigmas agrícolas do setor sucroenergético e recomendamos a utilização. As quedas percentuais entre os cortes com a utilização desta tecnologia reduzem significativamente, por exemplo, a queda tradicional de primeiro para segundo corte é de 17 a 20 toneladas por hectare, mas quando utilizamos a Matriz 3D, esta queda cai na média para oito a 12 toneladas de cana por hectare. As reduções percentuais são observadas ao longo de todos os cortes, sem contar com o ganho na longevidade da soqueira, que está entre um a dois cortes.”
Josué Oliveira, gerente corporativo de Planejamento e Desenvolvimento Agronômico – Cluster Centro (MG) da BP Bunge Bioenergia, empresa formada pela joint venture das operações de açúcar e etanol da BP e Bunge. Uma das maiores do setor sucroenergético do país, reúne 11 unidades agroindustriais com capacidade de moagem de 32,4 milhões de toneladas de cana por safra, com gestão de 450 mil hectares de terras.