Sistema também possibilitou redução na emissão de gás carbônico e óxido nitroso e melhorou em 74% o ganho de peso diário dos bovinos
Pesquisa realizada pelo Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostra que a alimentação de bovinos em sistema de consórcio com capim Marandu e a leguminosa Macrotiloma reduz em até 66% a emissão de metano pelos animais. O uso da Macrotiloma também ofereceu maior qualidade nutricional e digestibilidade da dieta, o que gerou aumento de 74% no ganho médio de peso diário dos bovinos mantidos em sistema de consórcio em comparação com os animais alimentados apenas com capim Marandu.
Os resultados foram obtidos por meio de projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), iniciado em setembro de 2019. O objetivo foi investigar os efeitos do consócio de gramínea e leguminosa na forragem, no animal e no meio ambiente.
De acordo com a pesquisa, o ganho médio diário de peso dos animais alimentados com capim Marandu sem suplementação foi de 310 gramas por dia. No consórcio entre o capim e a leguminosa Macrotiloma o ganho diário chegou a 540 gramas por dia. “Nesse caso, quando calculamos a emissão de metano pelo ganho de peso médio diário observamos que o tratamento consorciado diminuiu em 66% a emissão de metano quando comparado aos animais alimentados exclusivamente com o capim”, explica Luciana Gerdes, pesquisadora do IZ.
A pesquisadora do IZ afirma que a emissão de metano pelos bovinos, além de colaborar com o aquecimento global, provoca uma perda de energia e, consequentemente, queda na produção de carne ou de leite. “As leguminosas apresentam quantidades significativas de compostos secundários, como os taninos, que por serem moduladores da fermentação ruminal diminuem a produção de metano e aumentam a produtividade dos animais”, explica.
Projeto analisou todos os componentes do sistema de produção animal
Segundo a pesquisadora do IZ, o projeto analisou todos os componentes do sistema de produção animal: no solo o balanço de carbono, na planta a caracterização da produção de forragem e componentes botânicos, no animal o desempenho, qualidade do produto e ecossistema ruminal e, no ambiente, o fluxo de emissão de gases do efeito estufa, vulnerabilidade e análises do ciclo de vida.
“A preocupação mundial por sistemas sustentáveis de produção animal com alta produção de biomassa e de biodiversidade tem sido foco das pesquisas do IZ para transferir ao produtor rural tecnologias que possibilitem o melhor manejo no campo. O Instituto vem desenvolvendo estudos sobre o uso de sistemas integrados e de pastagens com associação de gramíneas e leguminosas forrageiras para mitigação de gases do efeito estufa, contribuindo com a sustentabilidade da produção dos bovinos”, explica Luciana.
O projeto de pesquisa realizado no IZ faz parte do Projeto Temático apoiado pela FAPESP, sob coordenação de Paulo Henrique Mazza Rodrigues, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), que estuda a mitigação de gases de efeito estufa no Sudeste brasileiro. O trabalho foi realizado em conjunto com unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade de São Paulo (USP), Universidade da Califórnia e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Leguminosas trazem vantagens para alimentação animal, para o solo e para o ambiente
As leguminosas têm a capacidade de fixação biológica de nitrogênio diminuindo a utilização de fertilizantes nitrogenados e reduzindo as emissões de gás carbônico e óxido nitroso para a atmosfera. “Quando empregadas em sistemas de consórcio, as leguminosas favorecem a atividade biológica do solo, contribuindo para a velocidade de ciclagem de nutrientes e a redução de perdas pela incorporação dos resíduos. Isso contribui para o aumento dos estoques de carbono”, explica Luciana.
As plantas também aumentam o teor de nitrogênio no sistema solo/planta e fornecem uma importante fonte de Nitrogênio para as gramíneas, favorecendo o aumento da produtividade das pastagens. “O consumo da leguminosa pelos animais resulta em melhorias na dieta, por apresentarem teores de proteína superiores ao das gramíneas, com maior digestibilidade e menores teores de fibra”, diz a pesquisadora.