Trabalho desenvolvido no Vale do Paraíba aplicará modelagem para cálculo de sequestro de carbono de espécies tropicais e nativas
Pesquisadores da APTA Regional, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desenvolvem estudos que visam a restauração ecológica e florestal da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul, na região do Vale do Paraíba, aliando a geração de renda e segurança alimentar de famílias de agricultores. O projeto, que também tem foco em cálculos relacionados ao sequestro de carbono, é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Fundo Mundial para o Ambiente (GEF) e prevê o plantio de árvores, palmeiras e frutas nativas da Mata Atlântica por meio de várias técnicas, entre elas a chamada muvuca, uma espécie de “coquetel” de sementes.
O projeto é conduzido pelas unidades da APTA Regional de Pindorama e Pindamonhangaba e conta com a participação da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA), Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, Conexão Mata Atlântica, Associação de Cultura e Educação Ambiental Serra Acima, Instituto Auá, Akarui, Instituto Socioambiental, Caminhos da Semente, Rede Sementes do Xingu e Agroícone.
Ao todo, mais de cem famílias de agricultores participam dessa iniciativa, em área total de 15 hectares plantados e distribuídos em dezenas de módulos de cerca de 1.000 m² em áreas particulares nos municípios de Tremembé, Lagoinha, Cunha, São Luiz do Paraitinga, Natividade da Serra e São José dos Campos.
De acordo com o pesquisador Antonio Carlos Devide, da APTA Regional de Pindamonhangaba, o objetivo é fortalecer iniciativas em desenvolvimento e de forma colaborativa realizar pesquisas e disseminar o conhecimento sobre o plantio de espécies nativas da região em conjunto com frutíferas e culturas agrícolas, como a mandioca e a banana. Com isso, espera-se não apenas o reflorestamento de áreas, mas a geração de renda, emprego e segurança alimentar, além da inserção dos pequenos agricultores nas atividades de restauração ecológica.
“A técnica muvuca de sementes florestais, ou semeadura direta, é como um coquetel em que pegamos sementes de diversas árvores e adubação verde e misturamos para realizar o plantio. Junto com essas sementes, inserimos espécies florestais que foram extintas na região. Nos dois primeiros anos do plantio, as culturas agrícolas podem gerar renda aos agricultores familiares, quando a floresta ainda não está formada. Os produtores podem colher esses alimentos para comer e vender. Quando a floresta se forma, eles ainda continuarão com fonte de renda, pois poderão colher os frutos de espécies nativas e alimentos da própria mata restaurada”, explica o pesquisador.
Sequestro de carbono
Uma parte muito importante do projeto é a aplicação de uma modelagem para o cálculo de sequestro de carbono, focado em espécies tropicais nativas da Mata Atlântica. “A ideia é aplicar uma metodologia para o cálculo de sequestro de carbono nessas espécies e capacitar os pesquisadores da APTA e técnicos da SIMA para aplicar essa modelagem. Isso trará ganhos muito significativos para a ciência e para a área de mudanças climáticas”, afirma Maria Teresa Vilela Nogueira Abdo, pesquisadora da APTA Regional de Pindorama e líder do projeto de pesquisa.
“Em 2019, entregamos 100 kg de sementes. Em 2020, conseguimos entregar 700 kg de sementes nativas. Temos muito potencial para crescer, já que o assentamento Egídio Brunetto conta com 55 famílias e tem proposta agroecológica. Temos ainda a relação com outros assentamentos e produtores que se utilizam das agroflorestas. Esse trabalho é muito importante para o resgate cultural e para engrossar a renda e o sustento das famílias. A agroecologia e os sistemas agroflorestais têm mudado a relação das famílias do assentamento com a terra, fazendo com que muitas pessoas, por exemplo, passassem a conhecer e a reconhecer as espécies de plantas que eram utilizadas por seus pais e avós. Há um processo de entendimento, de reconhecimento das espécies nativas e suas importâncias e, principalmente, de melhoria de renda. Através do acesso à terra, informações e tecnologias, tem sido realizada uma transformação social dessas famílias, que viviam em grande vulnerabilidade.”
Thiago Ribeiro, morador do assentamento Egídio Brunetto, em Lagoinha, interior paulista. Ele é também bolsista da FAPESP e atua no projeto junto com outros 11 moradores do local que coletam sementes de espécies nativas para produção das muvucas.