A partir desses estudos é possível traçar estratégias para reduzir emissão de metano
O Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tem um dos únicos laboratórios do mundo equipado para estudar o que ocorre dentro do rúmen dos bovinos, verificando o que pode ser feito para otimizar a fermentação ruminal e diminuir as emissões de metano. O Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte foi inaugurado em julho de 2021, em Sertãozinho, interior paulista. O espaço contou com recursos de R$ 2,4 milhões aportados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio do Plano de Desenvolvimento Institucional em Pesquisa (PDIP).
As pesquisas realizadas visam a descoberta e validação de novas moléculas, objetivando a melhoria da utilização dos alimentos e consequente redução das emissões de metano, além de projetos científicos em parcerias com empresas privadas para a melhoria da cadeia produtiva. De acordo com a pesquisadora do IZ, Renata Helena Branco, um exemplo é o trabalho realizado em parceria com SilvaTeam e a JBS, empresa que tem como premissa ser “net zero”, ou seja, que o seu balanço entre emissão e a mitigação de metano seja zero até 2030. A equipe da Secretaria tem a incumbência de avaliar e validar as emissões.
O projeto do IZ é estruturado com a utilização de aditivos alimentares na dieta animal visando otimizar a fermentação ruminal, melhorando a eficiência de utilização dos alimentos e diminuindo as emissões de gases de efeito estufa, principalmente, do metano ruminal. O metano oriundo da fermentação ruminal representa uma perda substancial de 2% a 12%, aproximadamente, da energia oriunda da dieta e é considerado como um dos gases de efeito estufa.
Algumas estratégias são utilizadas para se reduzir a produção ruminal de metano, uma delas é uso de ionóforos, tendo como o principal a Monensina, amplamente utilizada como aditivo alimentar e conhecida por promover a melhoria da eficiência de utilização dos nutrientes. No entanto, devido à pressão por parte de consumidores, questões de segurança e leis governamentais foram impostas restrições ao uso de aditivos sintéticos nas dietas de animais de produção. Um exemplo disso foi a proibição do uso de ionóforos para fins não médicos em animais estabelecida pela legislação da União Europeia a partir de janeiro de 2006”, afirma Renata.
Nesse cenário, meios alternativos de manipulação da fermentação ruminal visando o aumento da utilização dos alimentos devem receber atenção especial. “Entre eles destacam-se os taninos, moléculas complexas encontradas naturalmente nas plantas, que podem se ligar com a proteína do alimento e potencialmente causar a diminuição da degradação da proteína no rúmen e diminuição das emissões de metano ruminal. Com essa premissa, estamos em fase experimental juntamente com a empresa SilvaTeam, fornecedora do princípio ativo, e com um dos maiores fornecedores de proteína animal do mundo, a JBS, que tem como um dos pilares de sustentabilidade a redução da emissão de metano em toda a cadeia produtiva. O Instituto de Zootecnia, utilizando a expertise de pesquisadores do Centro Avançado de Pesquisa de Bovinos de Corte, é responsável por validar essa diminuição da emissão de metano e apontar os valores absolutos”, explica a pesquisadora.
Equipamento do laboratório do IZ simula condições de rúmen de bovinos
O Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte também conta com equipamento que simula as condições do rúmen, parte anterior ao estomago dos bovinos. “Esse rúmen artificial permite que a gente acompanhe as transformações que ocorrem no processo de fermentação e meça com precisão o potencial de aditivos para reduzir as emissões”, conta a pesquisadora.
Um dos diferenciais das pesquisas do IZ, segundo Renata, é que os trabalhos iniciados no laboratório são posteriormente testados no campo, com os animais em sistema de pasto e confinamento, o que possibilita resultados mais consistentes.
“Sempre acreditei na interação entre o poder público e a iniciativa privada, como forma de resolver os problemas encontrados no campo, e no caso da APTA essa relação é sempre muito simples e possível. O Instituto de Zootecnia mantém em Sertãozinho um laboratório de primeiro mundo para gerar e testar tecnologias que vão reduzir a emissão de metano e é, por isso, que somos parceiros dessa iniciativa. Acreditamos que o IZ tem total capacidade para ser um centro de referência nacional nessa área.”
Marcelo Manella, diretor técnico da SilvaTeam, empresa parceira do IZ, que é líder mundial na produção, transformação e comercialização de extratos vegetais, de taninos e seus derivados.